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sábado, 4 de julho de 2009

TRISTEZA


Eu amo a noite com seu manto escuro,
De tristes goivos coroada a fronte,
Amo a neblina que pairando ondeia,
Sobre o fastígio de elevado monte.

Amo as plantas, que na tumba crescem,
De errante brisa o funeral cicio:
Porque minha alma, como a sombra, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio.

Amo a desoras sob um céu de chumbo,
No cemitério de sombria serra,
O fogo-fátuo que a tremer doideja,
Das sepulturas na revolta terra.

Amo ao silêncio do ervaçal partido,
De ave noturna o funerário pio,
Porque minha alma, como a noite, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio.

Amo do templo, nas soberbas naves,
De tristes salmos o troar profundo.

Amo a torrente que na rocha espuma,
E vai do abismo repousar no fundo.

Amo a tormenta, o perpassar dos ventos,
A voz da morte no fatal parcel,
Porque minha alma só traduz tristeza,
Porque meu seio se abrevou de fel.

Amo o corisco que deixando a nuvem,
O cedro parte da montanha, erguido.

Amo o sino, que por morto soa,
O triste dobre na amplidão perdido.

Amo na vida de miséria e lodo,
Das desventuras o maldito seio,
Porque minha alma se manchou de escárnios,
Porque meu seio se cobriu de gelo.

Amo o furor do vendaval que ruge,
Das asas negras sacudindo o estrago.

Amo as metralhas, o vulcão de fumo,
De corvo as tribos em sangrento lago.

Amo o nauta, o doloroso grito,
Em frágil prancha sobre mar de horrores,
Porque meu seio se tornou de pedra,
Porque minha alma descorou de dores.

Amo o céu de anil, a viração fagueira,
O lago azul que os passarinhos beijam,
O pobre pastor no vale,

As chorosas flores que ao anoitecer vicejam,
A Paz, o Amor, a Quietação e o Riso,
Ao meu olhar não têm mais encanto,
Porque minha alma se despiu de crenças,
E do sarcasmo se embuçou no manto.

Amo-te a Ti,
Mas já te perdi...

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